Nos últimos anos, a Grendene (GRND3) sofreu uma queda de 60% desde os picos entre 2019 e 2021. Mesmo assim, a empresa segue lucrativa, com margens consistentes, caixa robusto e dividendos atraentes. O que explica essa desconexão entre o preço e o desempenho?
Queda recente assusta, mas os números continuam firmes
Um dos motivos para a recente queda de 7% nas ações foi a piora no volume vendido, que caiu 10,5% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Essa redução foi puxada, principalmente, pelo mercado interno (-20%), enquanto o mercado externo cresceu 21,1%. A empresa apontou vendas fracas em novembro e dezembro, o que gerou menos pedidos para janeiro e fevereiro — algo que pode se normalizar nos próximos trimestres.
Receita e margens em crescimento
Apesar da redução de volume, a receita líquida cresceu 6,5%, impulsionada pela alta de 38% no mercado externo, tanto por aumento de preços, volume e câmbio favorável. No mercado interno, a receita caiu apenas 1,6%, já que o preço por par vendido subiu.
O lucro bruto cresceu 9,6%, com custos controlados. O EBIT recorrente subiu quase 7%, com melhoria na margem, e o lucro líquido recorrente foi de R$ 160 milhões, com crescimento de 8,2% e margem líquida de 28% — um número impressionante no setor.
Lucro operacional forte e investimentos que rendem
Outro ponto positivo foi o resultado financeiro. A Grendene possui uma carteira de investimentos de R$ 1,8 bilhão, que cresceu 25% em 12 meses. Esse montante gerou R$ 86 milhões em resultado financeiro líquido recorrente — quase metade do lucro da empresa.
Mesmo com críticas de que parte do lucro vem da aplicação do caixa, a empresa tem baixa dívida e não pode distribuir todo o lucro por conta de incentivos fiscais. Ou seja, esse caixa tende a continuar crescendo.
Valuation atrativo e dividendos constantes
Hoje, a empresa vale R$ 4,6 bilhões na bolsa, sendo que R$ 1,8 bilhão está em caixa — 39% do valor de mercado. Ao excluir esse caixa do valor das ações, você estaria pagando apenas R$ 3,13 por ação na prática.
O P/L está em torno de 6 vezes, um dos menores múltiplos desde 2004. A projeção de 47 centavos por ação em 2025 indica um dividend yield de 9%, podendo chegar a 28% com eventuais proventos extraordinários vindos de reservas fiscais.
Histórico de dividendos: uma máquina de gerar renda
A Grendene distribui dividendos trimestralmente e já repassou R$ 6,3 bilhões desde o IPO. Se esses dividendos tivessem sido reinvestidos a 100% do CDI, teriam virado mais de R$ 13 bilhões — mais de 10x o valor inicial.
Além disso, em 2023, a empresa pagou um provento extraordinário de R$ 1 bilhão, equivalente a R$ 1,20 por ação — ou seja, mais de 20% de dividend yield em um único movimento.
Oportunidade ou armadilha?
Mesmo com queda expressiva na cotação, os fundamentos continuam sólidos. A empresa tem:
- Baixo endividamento
- Caixa elevado
- Dividendos robustos e frequentes
- Valuation historicamente atrativo
Mas atenção: o crescimento da Grendene é mais lento e preço importa. Pagar caro em empresas de crescimento moderado pode custar caro, como vimos em 2019.
No preço atual de R$ 5,15, o investidor tem uma margem de segurança interessante, considerando um preço teto de R$ 6,21, com potencial de valorização de 21%, além dos proventos recorrentes.